A Polícia Federal identifica um dos autores das ameaças de morte a Joaquim Barbosa, presidente do STF. É um integrante da Comissão de Ética do PT. E agora?
Texto de Robson Bonin, com reportagem de Hugo Marques, publicado em edição impressa de VEJA
Desde que o julgamento do mensalão foi concluído, em novembro do ano passado, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, tornou-se alvo de uma série de constrangimentos orquestrados por seguidores dos petistas condenados por envolvimento no maior escândalo de corrupção da história.
A chamada “militância virtual” do PT, treinada pela falconaria do partido para perseguir e difamar desafetos políticos do petismo na internet, caçou Barbosa de forma implacável. O presidente do Supremo sofreu toda sorte de canalhice virtual e foi até perseguido e hostilizado por patetas fantasiados de revolucionários nas ruas de Brasília.
Os ataques anônimos da patrulha virtual petista, porém, não chegavam a preocupar Barbosa até que atingiram um nível inaceitável. Da hostilidade recorrente, o jogo sujo evoluiu para uma onda de atos criminosos, incluindo ameaças de morte e virulentos ataques racistas.
Os mais graves surgiram quando Joaquim Barbosa decretou a prisão dos mensaleiros José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino. Disparadas por perfis apócrifos de simpatizantes petistas, as mensagens foram encaminhadas ao Supremo.
Em uma delas, um sujeito que usava a foto de José Dirceu em seu perfil no Facebook escreve que o ministro “morreria de câncer ou com um tiro na cabeça” e que seus algozes seriam “seus senhores do novo engenho, seu capitão do mato”. Por fim, chama Joaquim de “traidor” e vocifera: “Tirem as patas dos nossos heróis!”.
Em uma segunda mensagem, de dezembro de 2013, o recado foi ainda mais ameaçador: “Contra Joaquim Barbosa toda violência é permitida, porque não se trata de um ser humano, mas de um monstro e de uma aberração moral das mais pavorosas (…). Joaquim Barbosa deve ser morto”.
Temendo pela integridade do presidente da mais alta corte do país, a direção do STF acionou a Polícia Federal para que apurasse a origem das ameaças. Dividida em dois inquéritos, a averiguação está em curso na polícia, mas os resultados já colhidos pelos investigadores começam a revelar o que parecia evidente.
O homem que desejava atentar contra a vida do presidente do Supremo usava um computador de Natal (RN) e o codinome de Sérvolo Aimoré-Botocudo de Oliveira. Os agentes federais descobriram que o nome verdadeiro do criminoso é Sérvolo de Oliveira e Silva – um autêntico representante da militância virtual petista, mas não um militante qualquer.
Sérvolo de Oliveira agora diz que não queria matar, embora, para ele, o ministro mereça morrer (Foto: VEJA) |
Além de admirador de José Dirceu e Delúbio Soares e um incentivador do movimento “Volta, Lula”, o cidadão que alimenta o desejo de ver uma bala na cabeça do presidente do STF é secretário de organização do diretório petista de Natal e membro da Comissão de Ética do partido no Rio Grande do Norte.
Também é conselheiro do vereador petista Fernando Lucena na Câmara de Natal e atua como agitador sindical nas greves e movimentos da CUT no estado. Apesar de ainda exercer oficialmente todas essas funções, Sérvolo sumiu da cidade e o “Botocudo” saiu do ar.
Em fevereiro, mês em que passou a ser investigado pela Polícia Federal, o petista disse a amigos que precisava resolver “questões pessoais” e que iria passar um tempo em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Na Câmara, um colega do petista disse que algo o preocupava: “Ele ainda viajou com a gente em fevereiro, numa atividade do sindicato em Mossoró, mas depois disse que não estava bem, estava meio depressivo, e precisava dar um tempo”. No seu perfil verdadeiro na internet, Sérvolo informa que está em Foz do Iguaçu.
Procurado, o presidente do PT em Natal, Juliano Siqueira, admitiu que o investigado é seu secretário. Mas, seguindo o procedimento-padrão dos petistas em casos assim, tentou logo se distanciar do assistente enrolado: “Esse cara apareceu aqui no começo do ano. Mandaram de Brasília. Mas nem sei quem é. Sou presidente, não me relaciono com os secretários”. Na sala que o petista usava na sede do partido, um funcionário informou que ele havia tirado uma licença para cuidar de “assuntos pessoais”.
Localizado pela Revista VEJA, o Sr. Sérvolo de Oliveira confirma que, de fato, foi o autor da ameaça, mas alega que não pretendia matar o ministro do Supremo, embora, segundo diz, ele mereça morrer.
“Quando eu vi como trataram o julgamento do caso no STF, realmente me irritei. Quando falei do tiro na cabeça, eu estava lembrando do PC Farias. A burguesia brasileira age assim. Mas eu sou do candomblé, não tenho coragem de matar ninguém. Até porque, vamos pensar: se eu quisesse matar mesmo, apesar de ele merecer, eu não iria fazer uma ameaça de morte na internet. A única coisa de que me arrependo foi ter xingado a mãe dele”, afirma.
O comportamento do petista, segundo a lei, se encaixa no artigo do Código Penal que trata do crime de ameaça e pode render uma pena de até seis meses de prisão.
A Polícia Federal instaurou outro inquérito para apurar agressões contra Joaquim Barbosa. Esse último investiga também a prática de incitação ao crime. O Ministério Público Federal determinou à polícia que descubra a identidade do militante virtual que está convocando membros e correligionários do PT a atentar contra a vida do presidente do STF.
Na internet, o investigado atende pelo nome de Antonio Granado. A polícia ainda não sabe se essa é a identidade verdadeira do investigado, mas está adotando os procedimentos para descobrir. Já sabe que as ameaças partiram de um computador em Brasília e que o criminoso tem entre os convivas que compartilham com ele a campanha para matar o ministro deputados e dirigentes do PT e do PCdoB.
Na semana passada, Joaquim Barbosa cancelou a autorização de trabalho externo de dois condenados do mensalão, concedidas, segundo ele, à revelia da lei, e também estuda transferir Dirceu, Genoino e Delúbio para um presídio federal, diante das sucessivas provas de que eles são tratados com mordomias e privilégios ilegais na penitenciária do Distrito Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela sua participação!